sábado, 14 de maio de 2011

Tecnomanias: usos digitais para equipamentos analógicos



O homem transforma os recursos em rejeitos mais rapidamente do que a natureza consegue transformar esses rejeitos em novos recursos. Serge Latouche (Professor  de Ciências Econômicas na Universidade de Paris-Sul)

A tecnologia, a utilização de meios naturais a fim de criar ferramentas que auxiliem a vida, avançou gradualmente nos primeiros momentos da humanidade. Desde a primeira pedra lascada, passando pela descoberta do fogo, até a construção da roda, correram aí alguns milhares de anos. É nas civilizações primitivas, como os sumérios e babilônicos, que a tecnologia se aproxima de uma proto-ciência. Unindo esse incipiente conhecimento à práxis, buscou-se construir coisas úteis, como um calendário que apontasse os ciclos de plantio e colheita e primeiros códigos numéricos que se tem notícia. Nos séculos seguintes, em todo o mundo, diferentes povos desenvolvem aparatos tecnológicos advindos do conhecimento empírico.

É com o maquinário industrial que o papel do cientista/inventor ganha estatus e é alvo de disputa. Sabe-se o quão caro é para o nascente sistema capitalista conceitos como novidade, originalidade, eficiência e, principalmente, quantidade. A partir do século XIX é possível vislumbrar esse boom cientifico através, por exemplo, das inúmeras revistas científicas e associações de inventores.  O escritor L.F. Celine, no livro Morte a Crédito(1936) expõe poeticamente essa realidade na Europa. O desenvolvimento tecnológico tornava-se a chave para boa parte dos acontecimentos políticos e econômicos vindouros.

A eletricidade, um dos frutos da descoberta do elétron, vem estruturar um mundo avant capital. Representar, armazenar, transmitir ou processar informações são possibilidades multiplicadas através da microeletrônica. E é  esse conhecimento que propulsiona o desenvolvimento do sistema digital, somado aquele antigo conhecimento mesopotâmico: a matemática. Grossíssimo modo, com a combinação de digítos binários e um alto nível de abstração a era digital surge como o mais surpreendente e veloz avanço tecnológico que a civilização conheceu. Em menos de um século essa tecnologia expandiu e popularizou o que antes uma pequena parte da humanidade desfrutava. Vivemos num momento de abundância tecnológica, onde muitos têm acesso a equipamentos de alta complexidade, mas com baixíssima apropriação intelectual.
Provavelmente, um dos motivos do pouco aproveitamento desses equipamentos seja a rapidez com que eles se tornam obsoletos. Muitas vezes por motivos econômicos, mas também pelo esquecimento a que são relegados. O que antes levou milhares de anos para desenvolver, hoje é trocado a cada seis meses. Não se trata de um sentimento retrô/ludista, mas sim de um posicionamento político e estético.

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